Por Rafael de Sylos
Dia desses, saí de casa disposto a
caçar trabalhos de grafiteiros pela cidade de São Paulo pensando
justamente no conteúdo desse post. Apesar de não saber
exatamente onde procurar, optei pelo centro da cidade, onde muitas
vezes encontrei obras realmente interessantes e que geralmente passam
despercebidas pelo público devido ao fluxo incessante da vida
urbana. Depois de pouco tempo de busca, fui novamente surpreendido,
não pelos grafites que esperava encontrar, mas por uma expressiva
homenagem a todo um movimento artístico. Antes mesmo de sair da
estação República do metrô me deparei com a obra “Momento
Antropofágico Com Oswald de Andrade”, painel instalado em 1990
pelo artista autodidata Antonio Peticov, em comemoração ao
centenário do poeta Oswald de Andrade. Ocupando uma das paredes
laterais na parte interna da estação, a obra apresenta uma
miscelânea de referências ao movimento antropofágico, fundado pelo
próprio poeta na década de 20.
![]() |
Momento Antropofágico Com Oswald de Andrade (1990) 3m x 16,5m |
A parte inferior do painel é tomada
por ladrilhos estampados com um dos desenhos do ilustrador Ferrignac,
deixando o espaço superior livre para mais uma faixa de ladrilhos,
que dessa vez representam o “Abaporu” de Tarsila do Amaral, obra
que inaugurou o movimento. Há também um tronco de pau-brasil na
parte inferior central, dando continuidade a uma pilastra de aço
inox que divide a obra, ao mesmo tempo que reflete com perfeição um
retrato de Oswald de Andrade que situa-se no teto com dimensões
deformadas. Em maior escala, dos lados esquerdo e direito, temos uma
imagem trabalhada em azulejos que remete a um anúncio dos anos 30 do
Café Paraventi. Abaixo de tudo há uma grande faixa de pedra
reservada para a frase “Tupy Or Not Tupy”, uma das mais marcantes
do movimento.
Devo dizer que não sou grande
conhecedor do Modernismo brasileiro, mas fiquei realmente fascinado
por essa obra. Talvez pelo fato de carregar influências do artista
holandês M.C. Escher ao fazer uma experiência com fenômenos
ópticos, ou pelo simples fato de conseguir captar o espírito de
toda uma geração de artistas em apenas um grande trabalho,
utilizando diversas superfícies e materiais para construir uma
harmonia de cor, forma e perspectiva. Obras como essa apenas
reafirmam o potencial da cidade de São Paulo como palco das mais
ecléticas e expressivas manifestações artísticas; tudo isso em
ambientes rotineiros, de fácil acesso e gratuitamente.
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