terça-feira, 6 de novembro de 2012

"Momento Antropofágico com Oswald de Andrade" - Antonio Peticov




Por Rafael de Sylos

Dia desses, saí de casa disposto a caçar trabalhos de grafiteiros pela cidade de São Paulo pensando justamente no conteúdo desse post. Apesar de não saber exatamente onde procurar, optei pelo centro da cidade, onde muitas vezes encontrei obras realmente interessantes e que geralmente passam despercebidas pelo público devido ao fluxo incessante da vida urbana. Depois de pouco tempo de busca, fui novamente surpreendido, não pelos grafites que esperava encontrar, mas por uma expressiva homenagem a todo um movimento artístico. Antes mesmo de sair da estação República do metrô me deparei com a obra “Momento Antropofágico Com Oswald de Andrade”, painel instalado em 1990 pelo artista autodidata Antonio Peticov, em comemoração ao centenário do poeta Oswald de Andrade. Ocupando uma das paredes laterais na parte interna da estação, a obra apresenta uma miscelânea de referências ao movimento antropofágico, fundado pelo próprio poeta na década de 20.
Momento Antropofágico Com Oswald de Andrade (1990) 3m x 16,5m



 A parte inferior do painel é tomada por ladrilhos estampados com um dos desenhos do ilustrador Ferrignac, deixando o espaço superior livre para mais uma faixa de ladrilhos, que dessa vez representam o “Abaporu” de Tarsila do Amaral, obra que inaugurou o movimento. Há também um tronco de pau-brasil na parte inferior central, dando continuidade a uma pilastra de aço inox que divide a obra, ao mesmo tempo que reflete com perfeição um retrato de Oswald de Andrade que situa-se no teto com dimensões deformadas. Em maior escala, dos lados esquerdo e direito, temos uma imagem trabalhada em azulejos que remete a um anúncio dos anos 30 do Café Paraventi. Abaixo de tudo há uma grande faixa de pedra reservada para a frase “Tupy Or Not Tupy”, uma das mais marcantes do movimento.

 
 Devo dizer que não sou grande conhecedor do Modernismo brasileiro, mas fiquei realmente fascinado por essa obra. Talvez pelo fato de carregar influências do artista holandês M.C. Escher ao fazer uma experiência com fenômenos ópticos, ou pelo simples fato de conseguir captar o espírito de toda uma geração de artistas em apenas um grande trabalho, utilizando diversas superfícies e materiais para construir uma harmonia de cor, forma e perspectiva. Obras como essa apenas reafirmam o potencial da cidade de São Paulo como palco das mais ecléticas e expressivas manifestações artísticas; tudo isso em ambientes rotineiros, de fácil acesso e gratuitamente.























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