quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"TUTTO FELLINI" - SESC-Pinheiros


                                                                      

       Já na hora em que saí do metrô Pinheiros e comecei a andar pela estreita calçada em reforma não parei de pensar na exposição que veria em poucos minutos. Genial para alguns, absurdo para outros, ninguém nega o poder de Fellini. Seu talento criativo em fazer um filme ultrapassava as salas de cinema, renovando uma Itália pós-guerra e definindo o que sabemos sobre o homem moderno. Uma nova forma de se viver. Paparazzi, palhaços, prostitutas. O pop encontra o tradicional em uma leitura hiper-realista e única do mundo, principalmente de seus personagens. O Picasso do cinema. Minha maior surpresa foi saber que a exposição não apenas trouxe a época Felliniana como nos fez vivenciá-la.



       Cheguei ao SESC-Pinheiros e fui direto à bilheteria comprar a entrada, porém descobri que era franca. Uma crítica recorrente que tenho ao Brasil é a falta de acesso à cultura devido a preços elevados. Por isso, além da expectativa de ter acesso ao trabalho de um dos meus diretores favoritos, já fiquei admirada por isso ser proporcionado gratuitamente. A exposição não só atingiu minhas expectativas como as superou. Ao sair do elevador do segundo andar, já me emocionei ao ouvir o som de "La Dolce Vita" por trás da parede enquanto lia o cronograma da vida de Fellini.

       Logo na primeira sala, uma instalação com trechos de três filmes do diretor - "La Dolce Vita", "Boccaccio" e "Luci del varietà" - permite que o visitante imerse no estilo de Fellini e fique fascinado com os sons e as imagens ali disponíveis. Ao prosseguir, conhecemos um pouco de sua vida por meio de fotos, começando por seu encontro com Giulietta Masina, sua esposa e parceira de trabalho. Com seu rosto peculiar, desde Gelsomina até uma prostituta, ela é um dos símbolos de Fellini, que descreve seu rosto cômico como uma de suas melhores qualidades. Porém, concordo com Caetano Veloso quando diz que "aquela cara é o coração de Jesus".

                    


       Mais adiante, uma surpresa. Pessoalmente, eu desconhecia a relação intensa de Fellini com a pintura e com a psicanálise. Descobri que, antes de se tornar diretor, ele trabalhava como cartunista e que, apesar de ter seguido outro ramo, jamais deixou de pintar. Transcrevia e desenhava seus sonhos em um livro que está presente na exposição, além de diversas páginas expostas nas paredes. A partir desse material, é possível adentrar ainda mais no mundo Felliniano e em suas idiossincrasias.

                      

       O resto da exposição traz mais fotos e trechos de filmes, além de apresentá-lo como extremamente antenado, passando para as telas coisas que estavam acontecendo no dia-a-dia italiano. Uma capa de revista era o suficiente para influenciá-lo na criação de ícones e na eternização de lugares - como a Fontana di Trevi - que virariam símbolos daquele mundo moderno. O modo como ele trabalhava também é apresentado por fotos nas quais ele trata seus atores com proximidade, além de sua necessidade de se ver dentro das cenas. A vida inteira do diretor está muito bem sintetizada através de entrevistas, imagens e sons.

 
       A exposição acontece até o dia 16 de setembro no SESC-Pinheiros e eu a recomendo não só aos amantes de cinema, mas a qualquer um que tenha curiosidade de conhecer um dos representantes e influenciadores do mundo no qual vivemos. Como bem disse Sam Stourdzé, curador da exposição, Tutto Fellini "interroga o século XX de Fellini; o século do cinema, claro, mas também o da mídia: da imprensa, da televisão, da publicidade... Em poucas palavras: o século das imagens."

                     

Por Maria Carolina Starzynski Bacchi


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